Fernando Pessoa
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Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro,
Dizendo-me Aqui estou!
(Isso é talvéz ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as coisas,
Não compreende quem fala delas
Como o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo ávores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
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Viva a Leitura
Esse é um pequeno trecho da poesia de Fernando Pessoa que pode até contrariar as pessoas mais defensoras de Deus. Mas, nunca deveria fazê-las ficarem com raiva, pois ele em nenhum momento ofende Deus. Fernando Pessoa debate sobre a ineficiente perda de tempo em se explicar e defender Deus, pois basta estar vivo para estar com ele, pois Deus está no nada e no todo, ao mesmo tempo.
Teria o mundo mais paz se, acaso, todos parassem de tentar defender Deus e simplesmente o devotassem, observando sua obra. A intenção de defender Deus pode ter outros motivos escondidos, para quem o faz, mas bem nítidos a todos outros que simplesmente sentem Deus.
Teria o mundo mais paz se cada um estivesse atento ao que foi escrito por todos os outros: primeiro que nunca se conseguiria ler nem um pouquinho do todo, e cada um estaria sempre ocupado com a intensa e pacífica atividade de leitura; e, segundo, que os seus sentimentos aflorariam sem culpa e sem violência, pois poderia justificá-los simplesmente escrevendo, também.
Uma batalha de ideias na forma de poesias, de textos, de transcrição dos sentimentos e conhecimentos, exércitos de perfis de redes sociais, de blogs e sites, com certeza produz sentimentos, mas são de essência do debate, no máximo ofendendo em palavras, na maioria das vezes sem ao menos ter a intenção, mas nunca fisicamente.
Parece que essa internet é, então, uma obra de Deus. Onde de tudo um pouco existe, seja belo, seja feio, bom ou ruim, lógico ou insano, que aqui está pois foi escrito e produzido por humanos.
Por que obra de Deus: e por que não? Para quem acredita que Deus nos criou e deu vida, não há dúvida, e para quem procura defender Deus, até mesmo chegando ao subterrâneo, que fique à vontade e deixe um comentário.
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Newton Almeida www.newtonalmeida.com.br
