quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A Serra do Sambê : Rio Bonito : Estado do Rio de Janeiro


                        A Serra do Sambê de Rio Bonito e as Pressões Antrópicas 

     A Serra do Sambê é um maciço rochoso que tem formação muita antiga, período pré-cambriano, e ocupa algo que 1/10 do total do território da cidade de Rio Bonito ( que tem 462 km²).  Estendendo-se de oeste para leste, ao norte da cidade, do Basílio (até Braçanã), passando pelo centro da cidade (onde atinge suas maiores altitudes, quase 1000 metros), até Lavras , essa serra é uma verdadeira fábrica de água e uma espécie de ar-condicionado natural . 
    A Serra do Sambê é responsável pelo micro-clima de Rio Bonito, pois barra os frequentes ventos da região oceânica (vindos da Região dos Lagos),  que ascendem, acompanhando o relevo da Serra do Sambê e formam nuvens, convertidas em chuvas localizadas. 
   
    A Serra do Sambê é um divisor de águas, da Bacia Hidrográfica da Baía de Guanabara, ou Macro-região Ambiental I, e Bacia Hidrográfica Lagos / São João, ou Macro-região Ambiental nº  IV .  Os limites dessas bacias, em Rio Bonito, acompanham a linha de maior altitude da Serra do  Sambê,  bem em frente ao  centro  da cidade, para a direção de Cachoeiras de Macacu. 
    A Serra do  Sambê guarda ainda, refúgios  da vida silvestre, remanescentes da Mata Atlântica, que vem, ano a ano, sendo severamente agredida por atividades de caça, o extrativismo vegetal, desmatamento para a queima do carvão e adensamentos urbanos.  

    Preocupa-nos, ainda mais que a fragilidade das políticas públicas ambientais, seja em qualquer nível ou esfera de poder, já não evitavam tais problemas, quanto mais agora, que a excelente notícia do empreendimento petroquímico de Itaboraí (COMPERJ) pressiona  os valores de aluguéis e a construção civil, aumenta a chegada de novos moradores, forçando a expansão das ocupações humanas para áreas mais ermas, em que o solo  para a moradia  possui valores mais acessíveis, fazendo da Serra do Sambê uma possível  alternativa  de loteamentos.  
   No período em que eu, Newton Almeida,  fui Secretário Municipal de Meio Ambiente, conseguimos evitar os desmatamentos para a venda de carvão vegetal, a partir da oferta de emprego para reflorestadores, trabalhando em locais estratégicos da própria Serra do Sambê, produzindo mudas da Mata Atlântica com sementes coletadas lá mesmo, com autorização do IBAMA, em viveiros rústicos e muito produtivos. 
   O Projeto de Produção de Mudas na Serra do Sambê teve vida curta, de 2002 a 2004,  já que após o término de gestão da então Prefeita Solange Almeida, se fez encerrar essa política pública séria, competente, muito barata aos cofres municipais, que envolvia parceria do Consórcio Ambiental Lagos São João (na época o Secretário Executivo era o Luiz Firmino, hoje Sub-secretário de Estado do Ambiente / RJ) e a ONG WWF Brasil.  
   Foram produzidas, nos viveiros (em torno de 10) , cerca de 50.000 mudas de árvores de diversas espécies da Mata Atlântica (e conseguimos plantar algo em torno de 25.000 mudas) das mãos de homens que antes portavam moto-serras, e agora podiam sentir orgulho, e não mais estavam se escondendo da fiscalização ambiental. Esses brasileiros deram entrevistas a emissoras de televisão, não mais pelo crime que cometiam, mas por estarem participando da vanguarda  do restabelecimento da vida natural. 
   O projeto chegou a contar com 14 ex-carvoeiros, que trabalharam no período como reflorestadores, alterando um hábito muito antigo de viver do carvão, herdado pelos seus ancestrais, e inibindo a prática destruidora, que se no passado era menos sentida, pois derrubavam as árvores com machados, a partir da tecnologia da moto-serra a destruição tomou níveis avassaladores, e contribuindo para a formação de uma verdadeira rede de crime organizado, sendo que os moradores rurais,  nativos da Serra do Sambê, recebem a parcela menor do lucro, e ficam com os prejuízos da extinção da riqueza natural, transferindo enormes passivos ambientais para seus familiares e toda a população da região. 
    Na Serra do Sambê nasce o Rio Caceribu que deságua na Baía de Guanabara, e tantos outros riachos afluentes do Rio Bonito. Em Braçanã, uma represa da CEDAE utiliza as águas do Rio Caceribu para seu fornecimento à população do  Basílio (Rio Bonito)  e Tanguá (município vizinho) . Além dessa, outras represas são  responsáveis pelo fornecimento de mais da metade da água tratada do município, captada pela CEDAE, em mananciais da Serra do Sambê. Outro importante rio, que nasce lá, é o Rio Bacaxá, no Monte Azul, onde é conhecido por Rio Lavras, que atravessa a BR 101 e deságua na Lagoa de Juturnaíba (no município vizinho de Silva Jardim), percorrendo uns 30 quilômetros. A Lagoa de Juturnaíba é um importante manancial que abastece grande parte  da Região dos Lagos. 
     
* Postagem escrita no ano de 2012, texto e fotos do Newton Almeida